CLEMENTE LUZ: O PRIMEIRO CRONISTA DE BRASÍLIA
Resumo
Esta pesquisa buscou fazer um estudo da relação entre Jornalismo e Literatura, voltando-se para a análise das crônicas do trabalho jornalístico-literário do mineiro Clemente Luz (1920-1999) no período da construção de Brasília, sendo assim também, um dos primeiros literatos da nova capital. Diferentemente de outros grandes cronistas que ocupam ou ocuparam as páginas dos principais jornais do país, Clemente Luz não ocupou necessariamente a página jornalística, mas sim o espaço radiofônico da então recém-fundada Rádio Nacional de Brasília. Por meio das ondas do rádio, transmitia na hora do almoço suas crônicas para um número imenso de letrados e iletrados que circulavam pela capital ainda em construção. Já que a crônica, como gênero do discurso constitui um híbrido entre a literatura e o jornalismo, esse gênero textual representou um espaço para diversas abordagens a esse pioneiro das letras brasilienses, desde temas políticos a assuntos da vida cotidiana da então “capital da esperança”. É um desses gêneros textuais em que a verdade e a ficção se misturam, para a representação da realidade, o que permite a verificação de como esse enunciado relativamente estável é resultado da relação da vida cotidiana em uma situação histórica específica. Clemente Luz toma para si, como matéria de suas crônicas, o cotidiano ainda em formação de uma cidade nascente. Suas crônicas radiofônicas foram reunidas anos depois pelo próprio autor no livro Invenção da Cidade (1967), que engloba textos produzidos entre 1958 até a inauguração de Brasília. Trata-se de obra pouco explorada até o momento, seja no campo dos estudos jornalísticos, seja na área dos estudos de literatura brasileira. Este projeto pretende recuperar do esquecimento histórico esse pequeno artefato de memória cultural, o que pode motivar novas discussões a respeito da narrativa histórica sobre os primeiros anos de Brasília. Os textos de Clemente Luz são analisados a partir dos estudos narrativos empreendidos por Mikhail Bakthin, teórico russo que contribui decisivamente para a compreensão, entre outros aspectos, de como os gêneros discursivos, como a crônica, são construções apoiadas em aspectos de interação social e histórica. De modo geral, este trabalho pretende investigar como Clemente Luz tomou para si a missão de produzir representações sobre a vida cotidiana da nova capital do Brasil e como sua atividade enunciativa transmite valores ideológicos, culturais e sociais, inerentes a esse processo histórico
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PDFDOI: https://doi.org/10.5102/pic.n2.2016.5545
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