EFEITOS DE QUEIMADAS CONTROLADAS EM ÁREAS DE CERRADO SOBRE COMUNIDADES DE LEPIDÓPTEROS FRUGÍVOROS

André Elias-Paiva, Fabricio Escarlate-Tavares

Resumo


Há um viés na ciência quanto ao entendimento sobre a relação entre queimadas, antrópicas ou naturais, e a biota no Cerrado. Estudos comprovam que esta relação existe há mais de 30 mil anos e que, desde então, tanto a fauna quanto a flora deste bioma vêm se modificando para coexistir com os efeitos das queimadas. Embora tolerante ao fogo, o bioma Cerrado muito sensível a alterações antrópicas, o que o torna um dos biomas mais ameaçados no Brasil. Estas pressões justapostas à sua enorme diversidade faz com que este seja considerado um dos hotspots mundiais de biodiversidade. No Cerrado, estima-se a ocorrência de 10 mil espécies de lepidópteros (Insecta, Lepidóptera). Estes animais desempenham diversas funções ecossistêmicas e, por serem holometábolos com grande especificidade de habitat e alta sensibilidade a alterações no ambiente, são considerados bioindicadores de qualidade ambiental, sendo as borboletas frugívoras as que fornecem respostas mais precisas e rápidas. Assim, no presente estudo, buscou-se relacionar o efeito de diferentes regimes de queimadas em uma área de cerrado denso na Reserva Ecológica do Roncador, Brasília-DF, com a estrutura de comunidades de lepidópteros encontradas nessas parcelas. A premissa aqui considerada é de que é possível a partir da estrutura das comunidades de lepidópteros identificar se as queimadas provocaram alterações estruturais permanentes de médio e longo prazo. O fato de ao longo de 20 anos ter existido na área um projeto voltado ao estudo dos efeitos do fogo sobre a vegetação (Projeto Fogo) foi o que viabilizou a iniciativa do presente estudo. Dentro da área do Projeto Fogo foram selecionadas quatro parcelas submetidas a diferentes tratamentos e uma área controle, assim discriminadas: área controle sem queima (C), queimadas bienais no início da seca (BP), queimadas bienais no ápice do período seco (BM), queimadas bienais no final da seca (BT) e queimadas a cada quatro anos no ápice da seca (QM). Em cada uma das parcelas foram dispostas a cada 50 metros uma armadilha do tipo Van Someren-Rydon (VSR), confeccionadas manualmente. Para atração dos animais foi utilizada uma mistura de banana prata com caldo e melado de cana. Esta mistura permite o direcionamento das capturas quase que exclusivamente para as espécies frugívoras. As amostragens foram feitas semanalmente aos sábados, ao longo do dia e durante os meses de abril a julho do ano de vigência do projeto, foram coletados cerca de 200 indivíduos de 15 espécies. A parcela controle foi a que apresentou o maior número de indivíduos coletados (n=76), seguida da parcela de queima quadrienal (n=54). As parcelas subsequentes BM, BP e BT foram similares em termos de abundância com 37, 30 e 42, respectivamente. Os resultados encontrados corroboram com a afirmação de que a recorrência de queimadas possui reflexo negativo em invertebrados e tal ocorrência é agravada quando o evento ocorre em uma maior frequência e um menor intervalo de tempo


Palavras-chave


Lepidoptera; fogo; cerrado; ecologia; comunidades

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DOI: https://doi.org/10.5102/pic.n2.2016.5593

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