Avaliação dos efeitos de descontaminantes ambientais usados para coronavírus sobre espécies aquáticas

Resumo

A ecotoxicologia é a ciência responsável pelo estudo dos efeitos adversos das substâncias
químicas sobre os ecossistemas. Nesse contexto, ensaios ecotoxicológicos têm sido
utilizados com as principais ferramentas para avaliar esses efeitos sobre as espécies vivas.
No Brasil, com a pandemia de covid-19, várias cidades utilizam produtos químicos
desinfetantes para descontaminação de ambientes externos, incluindo as ruas públicas.
Todavia, esses agentes químicos desinfetantes tendem a escoar pela drenagem urbana,
pelas águas pluviais ou pelo esgoto e atingir os recursos hídricos. Nesse contexto, o objetivo
deste trabalho é avaliar e apresentar os efeitos adversos do álcool 70%, da marca Zelle+, e
do hipoclorito de sódio, da marca QBoa, na imobilidade de uma espécie planctônica e na
sobrevivência de uma espécie bentônica, ambas de água doce. Para isso, foram realizados
ensaios ecotoxicológicos agudos com o microcrustáceo Ceriodaphnia dubia e o gastrópode
Biomphalaria glabrata. Os métodos de ensaio seguiram os padrões da ABNT para C. dubia e
de trabalhos publicados para B. glabrata. Os resultados obtidos mostraram que, após 24
horas de exposição, o microcrustáceo C. dubia foi mais sensível a ambas as substâncias, com
CEs50 de 0,45% e 0,0000024%, enquanto o caramujo B. glabrata se mostrou mais resistente
com CLs50 de 33,63% e 0,02% para o etanol e para o hipoclorito de sódio, respectivamente.
Esses dados evidenciam que os produtos apresentam efeito tóxico agudo para espécies
aquáticas testadas em concentrações bem abaixo das aplicadas no ambiente e, desse modo,
devem ser utilizados com prudência, buscando evitar a possibilidade do escoamento
superficial.