Estamos desperdiçando um carácter de taxonomia útil? o caso da pigmentação do tórax para identificar Lutzomyia Longipalpis

Loyane Ricardo Cornelio, Emille Karoline Marques Ribeiro, Rafaella Albuquerque e Silva

Resumo


A identificação taxonômica de flebotomíneos é uma tarefa complexa e baseia-se
principalmente em critérios morfológicos dos vetores da leishmaniose visceral, doença essa
de importância tanto para a saúde pública humana quanto animal. Essa atividade é essencial
para vigilância entomológica, a qual permitindo compreender a biologia e ecologia dos
vetores, auxilia no seu controle e, consequentemente, na doença. A busca constante pela
simplificação do processo de identificação dos flebotomíneos é desejável para tornar as
atividades de vigilância mais ágeis e efetivas em relação às investigações voltadas para os
flebotomíneos. O objetivo do presente estudo é descrever a potencial utilização do uso da
coloração dos pleuritos para a discriminação de Lutzomyia longipalpis de outras espécies,
incluindo aquelas indistinguíveis. Durante os estudos realizados em laboratório foi constatada
a presença de uma coloração escura na parte superior da segunda e terceira coxa nas fêmeas,
especificamente no catepisterno e catepímero, além do anepímero e paratergito, todas estas
estruturas localizadas no tórax de Lutzomyia longipalpis. A validação foi realizada em duas
etapas, a primeira por um especialista e a segunda com profissionais pertencentes às equipes
de entomologia dos estados. Inicialmente, foi utilizada uma amostra de 383 flebotomíneos -
195 fêmeas e 188 machos. Foram separados o tórax, a cabeça e o abdome, sendo estes dois
últimos utilizados para a montagem. A análise das lâminas e tórax foi mascarada. A
identificação da espécie foi realizada utilizando a chave de classificação de Galati et al. (2013).
Dessas amostras, a pigmentação escura foi observada em 337 (98,5%) amostras de Lutzomyia
longipalpis, na região do paratergito e anepímero, catepisterno e catepímero. A segunda parte
da validação consistiu no envio de amostras, seguindo o mesmo padrão de elaboração
descrito acima, para sete equipes de entomologia estaduais. Cada equipe recebeu em torno
de 20 amostras de flebotomíneos (20 lâminas montadas e 20 eppendorfs com tórax). Cinco
equipes retornaram com os resultados, e apontaram que 55,95% dos Lu. longipalpis enviados
apresentavam as manchas de coloração escura no tórax, enquanto 53,5% dos exemplares de
espécies crípticas (Lu. gaminarai e Lu. cruzi) não apresentaram as referidas manchas nos tórax.
O resultado demonstra dificuldade e propõe que existe a necessidade de treinamento dos
profissionais de entomologia dos estados para a identificação da coloração escura nos
escleritos. Ademais, em áreas com espécies crípticas, o uso deste carácter não deve ser
considerado, pois não é específico de Lu. longipalpis.


Palavras-chave


Flebotomíneo; Taxonomia; Lutzomyia Longipalpis; Vigilância entomológica.

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DOI: https://doi.org/10.5102/pic.n0.2020.8283

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