Transexualidade – desafios na adesão à terapia hormonal de usuários do ambulatório de assistência especializada para pessoas travestis e transgênero do Distrito Federal

Ana Carolina Birino Melo, Rebeca Cezar Fechine Brito, Márcio Garrison Dytz, Leidijany Paz

Resumo


O número de transexuais necessitando de cuidados de afirmação de gênero vem crescendo, no entanto, a assistência integral à saúde da população trans, bem como a instituição de um processo transexualizador universal e equitativo ainda permanece um desafio. Nesse contexto, a presente pesquisa destinou-se a analisar os fatores que interferem na adesão à terapia hormonal em usuários do Ambulatório de Assistência Especializada para Pessoas Travestis e Transgênero do Distrito Federal do Hospital Dia (Brasília - DF), com vistas a: delinear o perfil dos pacientes que realizam terapia hormonal; analisar a taxa de adesão ao tratamento hormonal; identificar as principais causas de descontinuidade do seguimento endocrinológico/hormonioterapia e comparar as taxas dessa descontinuidade entre homens e mulheres transexuais no ambulatório trans do DF. Foi realizado um estudo observacional, de caráter transversal e retrospectivo, por meio de análise documental da Ficha de admissão ao ambulatório trans e do Guia de entrevista interdisciplinar de acolhimento do ambulatório trans de 346 usuários admitidos entre 22/08/2017 a 14/02/2019, além dos seus respectivos prontuários físicos e eletrônicos, o que resultou em 201 indivíduos selecionados para este estudo. Após identificação de 127 pacientes em seguimento endocrinológico regular no ambulatório e 74 que descontinuaram a terapia hormonal orientada por endocrinologista deste centro especializado, foi realizada busca ativa deste último grupo com intuito de elucidar as causas que cercam a descontinuidade do acompanhamento. Concluiu-se que o perfil do usuário que iniciou tratamento hormonal com orientações do endocrinologista do ambulatório se configura, principalmente por homens trans, menores de 30 anos e com predomínio de educação formal igual ou superior a 9 anos. Houve uma taxa de adesão à hormonioterapia de 63,2%, em comparação a uma taxa de abandono de 36,8%, sendo esta descontinuidade maior entre as mulheres trans que iniciaram a hormonização. Os principais motivos de abandono identificados foram a dificuldade de marcação das consultas e/ou o acesso ao ambulatório (distância, transporte e recursos financeiros). A maior parte dos pacientes que estão usando hormônios sem acompanhamento médico segue a mesma prescrição feita pelo endocrinologista do ambulatório. Este campo de estudo ainda é pouco explorado, a falta de dados e de documentos oficiais brasileiros sobre esse tema reafirma a situação de marginalização em que a população trans está inserida. Esta pesquisa buscou trazer visibilidade para a pauta, além de suscitar pesquisas futuras no que tange a saúde trans.


Palavras-chave


transexual; transgênero; terapia hormonal; abandono; adesão.

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DOI: https://doi.org/10.5102/pic.n0.2020.8339

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