A Justiça de Pieter Bruegel: direito, violência e a venda nos (nossos) olhos

Rafael Lazzarotto Simioni, Cícero Krupp

Resumen


Este artigo tem o objetivo de propor uma visão jurídica original da obra de arte Justicia, de Pieter Bruegel, como uma imagem tridimensional que reúne, em único enquadramento, quatro temporalidades do direito. O tempo presente dos corpos da Lei, dos humanos e da Administração Judiciária; o tempo passado dos fundamentos mitológicos da Justiça e de Cristo; o futuro retrospectivo da ignorância e da cegueira relativa da Justiça; e, por fim, o tempo contingente do futuro do direito. Esta última temporalidade é a dimensão da esperança no futuro e da utopia no direito, simbolizada pelo espaço ainda a ser ocupado no centro da praça dos julgamentos. Como metodologia e perspectiva teórica, utiliza-se a forma de teoria de Niklas Luhmann, a qual permite observar não apenas a relação entre os elementos que o artista desenhou, mas também entre o que ele poderia ter desenhado, mas não desenhou. Assim, conclui-se que Justicia é uma obra essencialmente sobre o tempo do direito, onde Bruegel nos coloca como personagens participantes de seu no espaço vazio, ainda não ocupado, no centro da imagem. É o espaço da esfera pública e da possibilidade de ressignificação democrática do direito que queremos para o futuro.

Palabras clave


direito, justiça, Pieter Bruegel; violência; direito e arte

Texto completo:

PDF (Português (Brasil))

Referencias


AGAMBEN, Giorgio. Homo sacer: il potere sovrano e la nuda vita. Torino: Einaudi, 1995.

AINSWORTH, Maryan W.; CHRISTIANSEN, Keith (Org.). From Van Eyck to Bruegel: Early Netherlandisch Painting in The Metropolitan Museum of Art. New York: The Metropolitan Museum of Art, 1988.

ANFAM, David. De Kooning, Bosch and Bruegel: some fundamental themes. The Burlington Magazine, Vol. 145, n. 1207, out/2003, p. 705-715.

BAKHTIN, Mikhail. Rabelais and His World. Tradução de Helene Iswolsky. Bloomington: Indiana University Press, 1984.

BARNOUW, Adrian J. The fantasy of Pieter Bruegel. New York: Lear Publishers, 1947.

BERGAMASCHI, Giovanna et all. Bruegel: Regards sur la Peinture. Paris: Fabbri, 1988.

BOUCQUEY, Thierry. Mirages de la farce: fête des fous, Bruegel et Molière. Amsterdam e Philadelphia: John Benjamins, 1991.

BRANT, Sebastian. A nau dos insensatos. Tradução de Karin Volobuef. São Paulo: Octavo, 2010.

BRUEGEL, Pieter. Justicia. Washington, DC: National Gallery of Art, 1559.

BURMEISTER, Karl Heinz. “La Justicia” de 1559 de Pieter Brueghel el Viejo. Pensamiento Jurídico, n. 24, p. 19-37, 2009.

CAHAN, Claudia Lyn; RILEY, Catherine. Bosch-Bruegel: and the Northern Renaissance. New York: Avenel Books, 1980.

CAPERS, I. Bennett. Blind Justice. Yale Journal of Law & the Humanities: Vol. 24, n. 1, (2012, p. 179-189.

CHAPUIS, Julien. Early Netherlandish Painting: shifting perspectives. In: AINSWORTH, Maryan W.; CHRISTIANSEN, Keith (Org.). From Van Eyck to Bruegel: Early Netherlandisch Painting in The Metropolitan Museum of Art. New York: The Metropolitan Museum of Art, 1988, p. 3-22.

CUTTLER, Charles D. Northern painting: from Pucelle to Bruegel. Fourteenth, Fifteenth, and Sixteenth Centuries. New York: Holt, Rinehart and Winston, 1968.

DAVIS, Howard McParlin. Fantasy and irony in Peter Bruegel’s prints. The Metropolitan Museum of Art Bulletin, New Series. no. 10 (1943): 291-295

DAMHOUDERE, Joost de. Enchiridion Rerum Criminalium. Louvain: Stephani Gualtheri & Ioannis Bathenii, 1554.

__________. Praxis rerum criminalium: Gründtliche und rechte nderweysung welcher massen in Rechtfertigung peinlicher Sachen. Franckfurt am Mayn: N. Bassee, 1575.

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O anti-Édipo: capitalism e esquizofrenia 1. Tradução de Luiz B. L. Orlandi. São Paulo: Editora 34, 2010.

DERRIDA, Jacques. De la grammatologie. Paris: Les Éditions de Minuit, 1967.

__________. Force de loi: le “Fondement mystique de l’autorité”. Paris: Galilée, 1994.

DÜRER, Albrecht. Das Narrenschiff. New Haven: Beinecke Rare Book and Manuscript Library, Yale University, 1494.

__________. Sol Iustitiae. New York: The Metropolitan Museum of Art, 1499.

ÉSQUILO. A trilogia de Orestes. Tradução de David Jardim Júnior. São Paulo: Ediouro, 1988.

FOOTE, Timothy. The world of Bruegel. C. 1525-1566. Alexandria: Time-Life Books, 1968.

FOUCAULT, Michel. Surveiller et punir: naissance de la prision. Paris: Gallimard, 1975.

GIBSON, Walter S. Pleasant places: the rustic landscape from Bruegel to Ruisdael. Berkeley e Los Angeles: University of California Press, 2000.

__________. Pieter Bruegel and the art of laughter. Berkeley, Los Angeles e London: University of California Press, 2006.

HABERMAS, Jürgen. The Structural Transformation of the Public Sphere: an Inquiry into a Category of Bourgeois Society. Tradução de Thomas Burger. Cambridge: MIT Press, 1991.

KLEIN, H. Arthur. Graphic worlds of Pieter Bruegel the Elder. Mineola: Dover Publications, 1963.

LORENZETTI, Ambrogio. Effetti del buon Governo in città. Siena: Palazzo Pubblico de Siena, 1338-1340.

LUHMANN, Niklas. El arte de la sociedad. Tradução de Javier Torres Nafarrate. México: Herder Editorial e Universidad Iberoamericana, 2005.

MANDERSON, Desmond. Blindness Visible: Law, Time and Bruegel’s Justice. ANU College of Law: Legal Studies Research Paper Series, n. 18.1, 2018, p. 2-20.

MICHEL, Émile; CHARLES, Victoria. Pieter Bruegel. New York: Parkstone International, 2011.

MÜHLBERGER, Richard. What makes a Bruegel a Bruegel? New York: The Metropolitan Museum of Art e Viking, 1993.

ORENSTEIN, Nadine M. Pieter Bruegel, the Elder: Drawings and Prints. New York e New Haven: Metropolitan Museum of Art e Yale University Press, 1981.

__________. Pieter Bruegel, the Land, and the Peasants. In: AINSWORTH, Maryan W.; CHRISTIANSEN, Keith (Org.). From Van Eyck to Bruegel: Early Netherlandisch Painting in The Metropolitan Museum of Art. New York: The Metropolitan Museum of Art, 1988, p. 379-391.

OST, François. Le temps du droit. Paris: Odile Jacob, 1999.

PAYRÓ, Julio E. El juicio del siglo XX. In: GROTE, Andreas; PAYRÓ, Julio E. Bruegel. Pinacoteca de los genios. Buenos Aires: Editorial Codex, 1964, p. 28-29.

RABELAIS, François. Gargantua. Tradução de Aristides Lobo. Rio de Janeiro: Ediouro, 1980.

__________. Pantagruel: Rei dos Dípsodos. Tradução de Anibal Fernandes. Lisboa, Frenesi, 1997.

RESNIK, Judith; CURTIS, Dennis. Representing Justice: invention, controversy, and Rights in City-States and Democratic Courtooms. New Haven and London: Yale University Press, 2011.

ROCHA, Leonel Severo (Org.). Paradoxos da auto-observação: recursos da teoria jurídica contemporânea. Curitiba: JM, 1997.

ROCKENBERGER, Annika. Albrecht Dürer, Sebastian Brant und die Holzschnitte des Narrenschiff - Erstdrucks (Basel, 1494). Gutenberg-Jahrbuch 86, 2011, p. 312-329.

ROTERDAM, Erasmo de. Elogio da loucura. Tradução de Paulo M. Oliveira. São Paulo: Ediouro, 1992.

__________. Stultitiae Laus. Basileia: Gottl. Beckerus, 1780.

TOLNAY, Charles De. The Drawings of Pieter Bruegel the Elder. London: Zwemmer, 1952.

SIMIONI, Rafael Lazzarotto. A Jurisprudenz de Gustav Klimt: direito, esfera pública e violência soberana. Anamorphosis – Revista Internacional de Direito e Literatura. V. 5, n. 1, Janeiro-junho, 2019, p. 37-68.

__________. Opus operatum e opus operantis: quando a validade do direito se desconecta da virtude de quem o aplica. Estudos de Religião, Vol. 32, n. 2, p. 139-161, maio/ago. 2018.

SNOW, Edward. Inside Bruegel: The play of images in Children’s Game. New York: North Point Press e Farrar, Straus and Giroux, 1997.




DOI: https://doi.org/10.5102/rdi.v17i3.7063

ISSN 2236-997X (impresso) - ISSN 2237-1036 (on-line)

Desenvolvido por:

Logomarca da Lepidus Tecnologia