PERFIL DOS PACIENTES COINFECTADOS LEISHMANIOSE VISCERAL/HIV FRENTE À UTILIZAÇÃO DE PROFILAXIA SECUNDÁRIA COM ANFOTERICINA B LIPOSSOMAL, BRASIL, 2014 A 2016
Resumo
A coinfecção leishmaniose visceral/HIV (LV/HIV) apresenta ampla distribuição
geográfica e alta taxa de letalidade no Brasil. Em termos de fisiopatologia da
coinfecção, tanto o vírus HIV quanto o protozoário Leishmania infantum possuem
mecanismos imunopatogêncios similares, que incluem: leucopenia com linfopenia
(principalmente de linfócitos TCD4+) e o aumento tanto da transcrição viral do HIV
quanto da replicação da L. infantum. Desse modo, é comum o agravamento do quadro
nesses pacientes, com recidivas e óbitos. Para evitar as evoluções desfavoráveis, o
Ministério da Saúde preconiza a realização da profilaxia secundária (PS) com
anfotericina B lipossomal. O objetivo desse trabalho foi Descrever o uso da profilaxia
secundária com anfotericina B lipossomal em pacientes coinfectados com LV-HIV no
Brasil, 2014 a 2016. . Foi realizado um estudo descritivo de corte transversal. Os dados
epidemiológicos foram obtidos no Sistema de Informação de Agravos de Notificação
(SINAN), considerando o período de 2014 a 2016, e as informações sobre as
solicitações de anfotericina B lipossomal foram requeridas ao GT-Leishmanioses do
Ministério da Saúde. No período analisado, foram confirmados 968 casos novos de
coinfecção LV/HIV, sendo 78% em homens. As faixas etárias com as maiores
concentrações de casos foram de 20 a 39 anos (50,9%) e de 40 a 59 anos (36,7%).
Houve crescimento no número de casos de 20,1% entre 2014 e 2016. A região
Nordeste teve o maior número de casos, com 574 (56,4%) casos acumulados no
período, destacando-se os estados do Maranhão (14,5%), do Piauí (14,4%) e do Ceará
(13,3%). Em seguida vem a região Sudeste (22,6%), com ênfase para Minas Gerais
(14,5%). Esta distribuição segue a sobreposição geográfica entre a LV e o HIV. No
período, houve 2.677 solicitações para realização da PS, contemplando 948 pacientes.
A maioria desses realizou mais de um esquema profilático em 2014, 2015 e 2016
(55,83%; 56,83%; 49,27%, respectivamente). Em 2014, 2,12% dos pacientes
precisaram de mais de 14 ciclos de PS. Além disso, em 2014 e 2015, 27% e 35,8%
dos pacientes virgens de tratamento (VT) realizaram PS ainda no mesmo ano em que
iniciaram o tratamento, respectivamente. Em 2016, 259 pacientes VT iniciaram a
terapia para LV. Desses, 21 (8%) realizaram PS naquele mesmo ano e, dentre estes,
95% (20) realizaram mais de uma solicitação de anfotericina B lipossomal durante
2016. Entre 2014 e 2016, em relação aos óbitos de pacientes coinfectados,
verificaram-se 168 mortes, das quais 33 ocorreram em pacientes que haviam realizado
profilaxia secundária entre esses anos. Assim, em 2014, dos 45 pacientes coinfectados
que tiveram como desfecho o óbito, apenas dois haviam realizado profilaxia secundária
neste mesmo ano. Em 2015 ocorreram 55 óbitos de pacientes coinfectados LV/HIV,
sendo que sete destes fizeram PS até este ano. Em 2016, 68 pacientes coinfectados
faleceram, sendo que destes 24 fizeram profilaxia secundária. Esses dados
demonstram a fragilidade destes pacientes, principalmente no reestabelecimento da
imunocompetência e refletem a necessidade de assistência frequente para esse grupo
Palavras-chave
Texto completo:
PDFDOI: https://doi.org/10.5102/pic.n3.2017.5863
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