Avaliação de sintomas neurológicos em pacientes infectados por Sars-Cov-2 e sua correlação com o prognóstico
Resumo
Em dezembro de 2019, foram registrados os primeiros casos de doenças respiratórias agudas de etiologia indeterminada. Posteriormente, essa nova doença foi denominada COVID-19. Em março de 2020, a OMS declarou o surto como uma pandemia. Na maioria dos casos, a doença se apresenta inicialmente como uma síndrome gripal, podendo estar relacionada a outros sintomas, como dor abdominal, mialgia e cefaleia. Além disso, pacientes infectados pelo vírus e com comorbidade prévia – como hipertensão, diabetes e doenças cardiovasculares – apresentaram maiores complicações e internações em Unidades de Terapia Intensiva. Desde o início, no entanto, uma parcela dos pacientes infectados apresentaram diversos sintomas neurológicos, por exemplo, tontura, cefaleia e alterações no olfato e no paladar. O estudo teve como objetivo evidenciar os sintomas neurológicos em pacientes diagnosticados com COVID 19 no Distrito Federal bem como correlacioná-los com o prognóstico desses pacientes. A metodologia do estudo baseou-se em estudo observacional retrospectivo. Foram obtidos dados de pacientes entre maio e outubro de 2020. Um questionário elaborado pelos pesquisadores foi a base da coleta de dados, e contemplou diversos dados, como epidemiológicos, medicações utilizadas, presença ou não de sintomas neurológicos, entre outros. Foram analisados 327 pacientes, divididos em 3 grupos: com sintomas neurológicos, sem sintomas neurológicos e com comorbidade neurológica prévia. Os grupos foram analisados separadamente, e os dados obtidos foram analisados pelo software estatístico JAMOV, a fim de correlacionar os 3 grupos de pacientes. No estudo, foram avaliados os dados epidemiológicos, sendo o sexo feminino mais prevalente e a idade média dos pacientes estatisticamente relevante (p=0.001). Os principais sintomas iniciais relatados foram síndrome gripal, dispneia e cefaleia. Neste estudo, apenas a cefaleia refratária foi considerada como sintoma neurológico, tendo em vista que a cefaleia simples está presente em outras infecções virais. Outros sintomas, como mialgias e tonturas, também não foram classificados como sintomas neurológicos. Os principais tipos de sintomas neurológicos apresentados foram cefaleia refratária, AVC e RNC. Além disso, o estudo correlaciona o maior uso de medicações de diferentes classes – como anti-hipertensivos e hipoglicemiantes – aos pacientes com sintomas neurológicos e comorbidades neurológicas. Ademais, os desfechos dos quadros analisados por subgrupo foram piores nos indivíduos com sintomas neurológicos e comorbidades neurológicas – o tempo de internação, a necessidade de VM e a evolução fatal, por exemplo, foram maiores nesses casos. O uso de medicações como antibióticos, corticoides e DVA foi menos prevalente nos pacientes do grupo controle, demonstrando apresentação de infecção mais leve e menor ocorrência de infecções bacterianas sobrepostas ao vírus. Na Escala Rankin, os grupos de sintomas neurológicos e comorbidades neurológicas apresentaram maior prevalência de pontuação 6 (máxima – óbito). Diante dos dados apresentados, infere-se que a manifestação da COVID-19 relacionada a sintomas neurológicos pode apresentar casos de infecção mais grave em comparação a pacientes sem esses sintomas. A análise de pacientes com comorbidades neurológicas possibilita inferir o pior quadro desses pacientes. Estudos que relacionem a ação do vírus Sars-Cov-2 com o sistema nervoso e que visem entender as consequências a longo prazo das manifestações neurológicas nesses pacientes ainda são necessários.
Palavras-chave
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PDFDOI: https://doi.org/10.5102/pic.n0.2020.8228
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